segunda-feira, 11 de março de 2024

“O PSL não compreendeu e o MDB também não compreendeu o que eu quero”, diz Emerson Jarude, cuja carreira, brilhante, começa a sofrer revezes


Por Jorge Natal

Depois de ganhar três eleições seguidas sem, aparentemente, comprar um único voto, com ações parlamentares que lhe renderam o reconhecimento da imprensa e da sociedade, o deputado estadual Emerson Jarude (sem partido) começa a amargar alguns reveses de uma então promissora carreira. Aliás, carreira é para designar a trajetória de militares, artistas, servidores públicos ou profissionais liberais. Política, na concepção dele, é um sacerdócio, uma doação temporária para a sociedade.


Para a surpresa de muitos, o político anunciou o seu desligamento do MDB essa semana. Essa é a segunda vez que fica sem partido durante um mandato. A primeira foi quando ele integrava o extinto PSL, um partido meramente cartorial e que pertencia à famigerada Frente Popular do Acre (FPA), de triste memória para os acreanos.


Em sua posse como deputado, Jarude assegurou que o seu mandato não iria se ater às questões moral e ética. Disse que iria levantar um debate sobre o nosso desenvolvimento, notadamente sobre o papel do Estado, que deve ser o garantidor de uma infraestrutura adequada para se produzir, bem como disseminaria uma cultura empreendedora entre a nossa gente. Chegou, inclusive, a sugerir que a agroindústria e a bioeconomia poderiam tirar o Acre do atraso econômico e social.


Não foi o que se viu até aqui. E por que? A indagação é até natural, uma vez que, além de preparado e legítimo, o parlamentar teria todas as condições para ser, de longe, o melhor parlamentar nesse início de legislatura. As brigas internas no MDB, inclusive expostas com um colega na tribuna, e outros assuntos pontuais consumiram o tempo de Jarude. Resumo da ópera: ainda não disse a que veio.


Esses episódios envolvendo o nosso entrevistado da semana lembram o mito grego, a Esfinge de Tebas, que observava atentamente cada viajante que passava pela cidade e a ele apresentava um misterioso ultimato: “Decifra-me ou te devoro”. Assim, àquele que se deparava com a esfinge restava tentar decifrar um enigma ou pagar com a própria vida. Não levando muito para o campo literal da alegoria, a política também é assim. Por tudo isso é que o Acrenews decidiu ouvir o parlamentar, para dar ao leitor a oportunidade de decifrar os momentos mais recentes da promissora carreira.


Vejam alguns trechos da entrevista com ele:

AcreNews – Esta semana o senhor deixou o MDB, mas antes, quando era vereador, também saiu do então PSL. Por quê?

Jarude – Uma coisa que a gente sempre deixa claro, ao se filiar a um partido, é o nosso jeito de conceber e fazer política. Isso é para evitar situações como essas. Parece que os partidos não têm a compreensão do trabalho que queremos e estamos implementando nos últimos anos. A nossa ideia não é ficar migrando de partido. O PSL não compreendeu isso quando assinamos a CPI dos transportes coletivos, que poderia esclarecer um dos maiores problemas de Rio Branco. Da mesma forma, o MDB não compreendeu isso, principalmente depois que eu fui eleito presidente do diretório municipal, com a responsabilidade de renovar os quadros do partido. O nosso compromisso temos cumprido, os partidos não.

AcreNews – Como não existem candidaturas avulsas no Brasil, o senhor necessariamente vai ter que se filiar a um partido. Qual?

Jarude – Como essa decisão é uma coisa muito recente, preciso ter muita calma nesse momento e deixar claro, mais uma vez, o nosso compromisso perante a população. Vou ouvir mais e falar menos.

AcreNews – O senhor é candidato a prefeito?

Jarude – A vereança foi uma grande escola. Aprendi muito sobre os problemas da cidade. A gente acaba se frustrando por não conseguir resolver certas demandas, que não estavam no meu raio de ação. As pessoas ainda têm que amarrar sacolas nos pés para saírem de suas casas, por exemplo. Eu não descarto essa possibilidade. Quem não se sentiria orgulhoso e honrado de concorrer ao cargo maior da cidade onde nasceu e vive? Porém, não iremos travar cavalos de batalha para isso. Vamos dialogar com quem faz a boa política, principalmente com aquela mais interessada, a nossa população.

AcreNews – Os virtuais candidatos a prefeito, Tião Bocalom (PP) e Marcus Alexandre (sem partido) já são velhos conhecidos do eleitor riobranquense. O senhor acredita que exista espaço para um político com o seu perfil?

Jarude – Acredito que a novidade tem que ser de ideias. É isso que fazemos no nosso mandato. As práticas, infelizmente, não mudaram. Antes tínhamos um transporte coletivo péssimo. O novo prefeito entrou, dizendo que iria abrir uma tal de caixa preta, mas os problemas continuam. No tocante às Ruas do Povo, o problema se arrasta e a população é a prejudicada. Tenho por certo que os rio-branquenses não estão satisfeitos com isso.

AcreNews – O senhor recebeu convites para se filiar a algum partido?

Jarude – Depois desse último acontecimento, eu recebi algumas ligações de solidariedade. E também para fazermos algumas conversas. Essas pessoas foram o deputado federal Roberto Duarte (Republicanos) e o senador Alan Rick (União Brasil). Com relação ao último, estivemos juntos na última eleição.

AcreNews – Como o senhor se define ideologicamente?

Jarude – Eu penso que essa dicotomia já foi totalmente superada. Eu foco nos problemas básicos e estruturais do Estado como, por exemplo, propor soluções para não ver pessoas saindo de casa com sacolas amarradas aos pés. Como eu posso ficar indiferente vendo as pessoas comprarem água morando na Amazônia? Sete em cada dez acreanos não sabem o que é saneamento básico. Somos o segundo pior estado quando o assunto é liberdade econômica. Isso dificulta os negócios e faz aumentar o desemprego e outras mazelas sociais. Esse maniqueísmo não resolve nada desses problemas que eu citei. No aspecto econômico, sou favorável à desburocratização, à digitalização dos procedimentos administrativos e à redução da carga tributária. Também sou municipalista. Acredito e defendo o pacto federativo para que os municípios tenham mais autonomia e mais recursos.

Por acrenews

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