Por Tião Maia – Médico e um dos prefeitos mais jovens do país, Rodrigo Damasceno (PT), de Tarauacá, tem um desafio imenso pela frente: administrar um dos municípios mais problemáticos do Acre, principalmente por causa das cheias dos rios Purus e do outro que dá nome à cidade. De 2014 para cá, o número de cheias na região chegou a 12, com prejuízos tantos públicos como privados.
No entanto, apesar das dificuldades, Rodrigo Damasceno vem sendo apontado como o segundo prefeito que mais investe em educação no Acre, perdendo apenas para Marcus Alexandre, da capital. Em Tarauacá, no momento, estão sendo edificadas nove escolas, cada qual no valor de mais de R$ 1 milhão. Os investimentos em educação foram superiores a R$ 20 milhões.
Num momento de crise, poder apresentar esses números, para o prefeito Rodrigo Damasceno, significa uma vitória. É sobre esses e outros assuntos que ele fala na seguinte entrevista:
Como o senhor conseguiu realizar, até aqui, investimentos na área educacional que são comparados com o que vem sendo feito em Rio Branco pelo prefeito Marcus Alexandre? Ou seja, Tarauacá é o segundo município em investimentos em educação. Como isso está sendo possível?
Rodrigo Damasceno – Os investimentos que conseguimos, principalmente na área da educação, foram a partir de um planejamento eficaz. Nós temos um setor para tratar exclusivamente do assunto educação dentro da Prefeitura. Um setor dotado de vários profissionais: engenheiro, arquitetos e outros técnicos que têm boa interação conosco, os gestores, para a elaboração de projetos e propostas ao governo federal para que a gente possa acessar recursos até então não acessáveis ao nosso município. Foi assim que a gente conseguiu cadastrar diversas propostas e, com ajuda dos nossos parlamentares federais e do nosso governador, conseguimos viabilizar recursos em Brasília para a realização dos investimentos que estamos fazendo em educação em Tarauacá. Entre os 22 municípios do Estado, nós estamos em segundo lugar, perdendo apenas para Rio Branco, a capital, em investimentos na área educacional, em valores reais. Os investimentos, até aqui, têm um valor total de R$ 21 milhões.
O senhor poderia detalhar como são aplicados os recursos e quais as obras ?
Os investimentos vêm sendo feitos em grande parte em infraestrutura escolar, na recuperação e construção de escolas. Só em novas escolas, nós estamos investindo e construindo nove escolas em Tarauacá. São escolas com padrão de investimentos de mais de R$ 1 milhão em cada uma delas. Estamos fazendo também duas creches, duas pré-escolas e investindo pesado em infraestrutura das escolas que já existem, com aquisição de aparelhos de ar condicionado. Estamos levantando também seis quadras cobertas. A maior escola do nosso município, que fica no bairro da Praia, que não tinha um só ar condicionado, está toda climatizada. A situação era tão dramática naquela escola que os alunos não tinham nem recreio, com mais de mil alunos matriculados. A gente está buscando aperfeiçoar o sistema educacional do nosso município, dando melhores condições de trabalho aos professores e técnicos, e também aos alunos.
No país inteiro, a alegação dos administradores públicos é de que falta dinheiro para tudo. Como é administrar um município em meio à crise?
Realmente é uma situação delicada para qualquer gestor. Na gestão pública, o cobertor é menor que o frio das necessidades da população. Nós estamos, sim, passando por dificuldades porque dependemos do repasse de verbas federais. São verbas que, no entanto, não satisfazem todas as nossas necessidades. No momento de crise, os repasses caem a cada mês. O último repasse caiu em 19 por cento, mas já houve momentos em que esse valor caiu 30 por cento. Isso é doloroso, principalmente para nós, prefeitos, que vivemos e atuamos muito próximos da população. Os governos dos estados e o federal têm uma certa blindagem em relação aos gestores. Conosco, prefeitos, a coisa é diferente, porque o cidadão mora no município, muitas vezes é vizinho do gestor e a cobrança é ainda maior. O ponto da lança é o prefeito, que está à frente de todos os problemas da municipalidade. Esse momento, portanto, é de muita apreensão. Espero que todos nós possamos superar este momento tomando por base a compreensão, por parte da população em relação a uma obra não realizada, e dos políticos, que devem se unir, superar as diferenças e divergências e trabalharmos todos sairmos da crise.
Tarauacá viveu pelo menos 12 grandes alagações em 2015. Ao que tudo indica, o inverno não vai dar trégua também em 2016. O senhor está preparado para uma nova enchente?
Olha, não há como a gente se prevenir em relação a fenômenos. As alagações em Tarauacá em 2014 e 2015 foram autênticos fenômenos. Nós lutamos muito e vencemos o que parecia impossível. É claro que isso só foi possível graças à ajuda do governador Tião Viana, da presidente Dilma Rousseff e dos nossos parlamentares. A sociedade de Tarauacá também nos ajudou muito. Graças ao empenho de todos, conseguimos vencer. Mas não há como a gente se prevenir em relação a isso.
E como anda a proposta de transferir algumas moradias da beira do rio para locais mais altos? Vai haver a construção dessas novas casas? E como estão reagindo as pessoas que precisarão deixar os locais de riscos?
A proposta de transferência das famílias e de liberação das casas estão andando. Na minha última visita a Brasília, eu fiz questão de ir ao Ministério da Integração Nacional, discutir exatamente isso. Em relação às casas, temos duas propostas em andamento: uma, que prever a construção de mil residências, que seria uma proposta mais ousada, fazendo em Tarauacá uma miniatura do que é a Cidade do Povo em Rio Branco, onde haveria a transferência das famílias que estão em áreas de risco maior para essas novas moradias. A segunda proposta prever uma menor quantidade de casas, com 80 residências, é para contemplar exatamente aquelas famílias que já perderam as suas casas. Nós estamos otimistas. Há um compromisso da presidenta Dilma firmado com o governador Tião Viana da possibilidade real da liberação dessas casas.
Está havendo de fato parcerias com o governo do Estado e federal para a reconstrução de Tarauacá ?
Há, sim, parcerias tanto com o governo do Estado como com o governo federal, principalmente no período das alagações em Tarauacá. Ultimamente, também temos parcerias para a recuperação do nosso município. No entanto, sabemos das limitações pelas quais está passando todo o nosso país e que isso se reflete tanto no governo federal, no governo estadual e isso chega, de forma mais sensível ainda, aos governos municipais.
Qual é o principal problema enfrentado hoje pela população de Tarauacá?
Acho que ainda é a falta de oportunidades. E oportunidade no sentido mais amplo da palavra. Acredito que avançamos muito com os cursos do Pronatec para a nossa população, que foram mais de mil pessoas formadas em nossa gestão. Também levamos investimentos em obras em nosso município, que já consumiram mais de R$ 50 milhões. Foram obras públicas que nós levamos para gerar também oportunidades de emprego e renda para a população do município. Ampliamos a cobertura do Bolsa Família, que tinha um valor total de R$ 700 mil por mês para mais de R$ 1,7 milhão, que hoje vem para Tarauacá mensalmente, só com este programa. Mas ainda há muitas famílias que precisam ser abraçadas, muitas pessoas que pessoas que não foram ainda atendidas. Ainda há muito o que se fazer por nossa cidade e esta palavra oportunidade é o nosso maior desafio: levar oportunidade às pessoas que mais precisam.
O senhor é médico. Como é ser prefeito e médico numa cidade em que são reclamadas atenção à saúde da população e os recursos nem sempre são suficientes?
Tenho que reconhecer: quando eu era só médico na cidade, era mais simples a tarefa. Atendia, passava a receita e ali estava resolvido ou amenizado o problema do paciente ou do cidadão que estava na minha frente. Agora, sendo prefeito também, vem outras demandas, outras cobranças e cobranças que muitas das vezes a gente não tem como resolvê-las em sua plenitude. A saúde é uma delas. A questão da saúde pública no nosso país é muito difícil. A gente deixa, muitas das vezes, o caso de doença se agravar e, com isso, o gasto público para tratar deste paciente se torna muito maior. Se nós tivéssemos condições de investir mais ainda em saneamento básico, nós conseguiríamos diminuir os gastos com saúde. A cada R$ 3 investidos em saneamento básico, nós teríamos uma economia de RS em saúde. Esse é o nosso maior desafio, como prefeito e como médico.
O senhor está satisfeito com o que tem feito até aqui pelo município?
Sobre isso, eu digo que gostaria de ter feito mais, de ter produzido mais. Eu gostaria de ter recebido uma prefeitura em melhores condições. Eu gostaria de ter tido uma equipe, logo nos primeiros momentos, e as expertises que tenho hoje na minha consciência para a gente ter avançado mais.
O senhor é candidato à reeleição?
Vejo que este ainda não é o momento de discutir isso. O momento é de se falar na busca de meios para encerrar o ano da melhor forma possível, de manter os pagamentos em dias. De busca a melhor maneira possível de manter a administração funcionando e pagando os funcionários em dias, inclusive com o décimo terceiro. Aqui já pagamos a metade do décimo terceiro salário e vamos pagar a outra parte agora. Estou focando em fechar bem o ano. Sobre o futuro a gente fala no momento certo.
Fonte: pagina20.net
Nenhum comentário:
Postar um comentário